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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Como Fazer de Maneira Original Algo Que Já Foi Feito Mil Vezes


Primeiro veja o vídeo abaixo. É um trecho do filme "Sete Homens Sem Destino" de Budd Boetticher. Escrito por Burt Kennedy.


Entre 1956 e 1960, Budd Boetticher fez um ciclo de sete filmes de faroeste que hoje são considerados clássicos.

Em seu ensaio "Un western exemplaire: Sept Hommes à Abattre" publicado no Cahiers du Cinéma em 1957, Bazin disse que esse era "o melhor western do pós-guerra juntamente com "The Naked Spur" ("O Preço de Um Homem") de Anthony Mann e "The Searchers" ("Rastros de Ódio") de John Ford. Segundo Bazin, "O primitivo encantamento que nos oferece Sete Homens Sem Destino tem a ver com a perfeição de um argumento que consegue a proeza de nos surpreender sem parar, à partir de uma trama rigorosamente clássica."

A questão é: deu para ver nesses dois minutos o que faz Budd diferente de 99% dos outros diretores?

Essa é uma cena típica de duelo de final de filme. Nem falei que o vídeo tinha SPOILERS por que, na boa, o filme é de 1956, então saiba que no final de todo faroeste dos anos 50 o mocinho vence o duelo final. Não é spoiler, é regra.

Por quê esse duelo é diferente e mais interessante que os outros? Preste atenção. Quando há um duelo, há uma série de campos e contracampos, entre o mocinho e o vilão. Geralmente, o último plano antes do tiro é o plano de quem vai atirar primeiro. Nesse caso, o mocinho. Geralmente, nós vemos ele SACAR a arma.

Nesse caso não. Budd simplesmente mantém o foco no vilão. Dá impressão que ele vai sacar a arma, mas é atingido por um tiro antes, sem que o mocinho tenha sido mostrado. Isso causa uma SURPRESA em quem está vendo, por que há uma quebra das regras "não escritas" do modo de como se filma um duelo. É simples, simples demais. Mas o efeito é genial.

Ou seja, mesmo lidando com as rígidas regras de um gênero, um diretor ou um roteirista podem, mesmo assim, quebrar regras e, com isso, fazer cenas geniais e diferentes. E NEM FOI PELO QUE BUDD MOSTROU E SIM PELO QUE ELE NÃO MOSTROU...


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