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LEMBRA-SE DESSA CENA? |
Scriptshadow dá dicas de como combater a mediocridade em um roteiro. Quem é scriptshadow? Ou o que é scriptshadow? Um site onde o dono analisa roteiros. Ele começou analisando só roteiros profissionais e se tornou um dos mais populares sites sobre roteiro da internet. Depois começou também a analisar roteiros de desconhecidos. E também escreve artigos, alguns bem interessantes. Como esse aqui.
Os piores roteiros do mundo? Esses não são os piores roteiros do mundo. Há roteiros piores.
Faz sentido? Provavelmente não. Mas fará até o final desse artigo.
Eu me lembro de alguns anos atrás, quando li um roteiro onde eu tive compreensão ZERO do que estava acontecendo. O escritor teve a habilidade de escrever páginas e páginas de história onde nada acontecia, então eu me achei lendo dez páginas, mas sem conseguir lembrar nada do que havia lido. Se você colocar uma arma na minha cabeça, eu vou dizer que era sobre uma deusa tentando explodir um vulcão. Mas se o escritor tivesse me dito que era sobre uma árvore de Natal que se apaixonou por um candelabro de sete pontas, eu não teria dito não. Era vago a esse ponto.
Mas veja, esses roteiros "realmente ruins" são frequentemente resultado de amadores que nunca estudaram a técnica e nunca tiveram feedback. Eles escrevem o que está em suas cabeças, acreditando que vai fazer sentido para nós porque faz sentido para eles, não se dando conta que escrever um roteiro requer um tipo específico de lógica com a qual, para pegar o jeito, é necessário tentativa e erro.
Para mim, esses não são os piores roteiros. Os piores roteiros são os ROTEIROS MEDÍOCRES.
Não há uma sensação de vazio maior quando eu leio um roteiro medíocre. Quero dizer, pelo menos, com um roteiro realmente ruim, você se lembra. Já um roteiro medíocre você esquece assim que o coloca de lado. É como fast food. E a tristeza é que eu leio uns 15 desses por mês. Parece que essa turma toda de roteiristas se resignou com a mediocridade. Então, quando eu vejo o mercado de roteiros com fome, não me surpreendo. Quem vai tirar o cheque do bolso para outro roteiro medíocre?
Deixe-me dar um exemplo. Uma vez eu li um roteiro do tipo "buddy-cop", que tinha esses dois policiais que se odiavam. Tinha o duelo de frases típico, a familiar trama da droga, aquele policial que era secretamente um dos vilões. Isso sou eu à medida que eu lia ("Já vi isso antes, já vi isso antes. já vi isso antes."). Foi o que disse para mim mesmo umas 80 vezes. Não havia um único momento que se destacava.
Eu não sei o que esses escritores pensam ao escrever um desses roteiros. Que eles devem ser congratulados por nos terem dado uma versão bem sucedida de algo que já vimos várias vezes antes?
Com um roteiro, você tem que se destacar de alguma maneira. Uma série de elementos medíocres não vão fazer isso. Os leitores querem ler algo original e/ou de qualidade. O que nos leva ao termo do dia: Elementos Excepcionais.
Um elemento excepcional é um elemento em seu roteiro que é melhor que a média. Você quer o maior número deles no seu roteiro. Mas, realisticamente, não vai passar do número 3. O que está bom, por que já é o bastante para você escrever algo que se destaque, e definitivamente algo que seja melhor que a média.
Pergunte-se, quais são os elementos excepcionais no seu roteiro? O que se destaca do resto? Aqui em baixo tem uma lista deles. Se você for bem em três desses elementos, já está ótimo.
Conceito original ou astucioso - Um dos meios mais fáceis para destacar seu roteiro é um grande ou único conceito. Dinossauros sendo clonados para fazer um parque temático ("Parque dos Dinossauros"). Pessoas que entram dentro da cabeça de outras pessoas ("Quero Ser John Malkovich").
Personagens únicos ou complicados - Se você vai ter um único elemento excepcional, que seja esse, já que um roteiro é muitas vezes definido pelos seus personagens. Melhor Jack Sparrow ("Piratas do Caribe") que Rick O´Connell ("A Múmia"). Melhor Jordan Belfort ("O Lobo de Wall Street") do que Sam Witwicky ("Transformers").
Melhorar uma idéia desgastada - Pegar idéias e melhorá-las é uma boa maneira de se destacar. Lembra do filme tipo "buddy-cop" que eu citei lá atrás? Ao invés de dois homens, que sejam duas mulheres ("As Bem Armadas"). Ou pegue uma história antiga e coloque-a num tempo diferente ("Conde de Monte Cristo" no futuro - um roteiro que vendeu há alguns anos atrás).
Arrisque-se - Como ser melhor que a média se você não se arrisca? Jogar seguro é a definição de mediocridade. Você vai ter que jogar os dados e sair da sua zona de conforto. Seth McFarlane fez uma comédia de um homem cujo melhor amigo era uma urso de pelúcia falante. Ninguém tinha escrito isso antes. Joque os dados.
Ultrapasse os limites - Vai depender do seu roteiro. Mas se você está trabalhando em um gênero que permite, não jogue seguro. Ultrapasse os limites. Foi o que "Seven" fez. Nós já vimos filmes de serial killer antes. Mas nunca um que tinha assassinatos tão doentes, tão intensos.
Trama - Uma trama genial que mantém o público ligado (com mistério, surpresas, ironia dramática, suspense, setups, payoffs, twists, reversões, drama, boa intersecção de linhas narrativas, etc.) pode te colocar no mapa. O mais excepcional elemento de Hitchcock era o seu manejo da trama.
Um grande final - É excepcional por que é a última coisa que um leitor vai guardar de um roteiro. Se você lhe der algo imensamente satisfatório ("Um Sonho de Liberdade") ou chocante ("O Sexto Sentido") e funcionar? É ouro.
Diálogo - Um dos elementos mais difíceis de ensinar e que depende de talento. Há maneiras de melhorar, mas geralmente as pessoas ou nascem ou não nascem com esse elemento. Não se apegue a isso então, já que há outros elementos para escolher. (nota do blog: discordo dessa opinião dele, diálogo é como qualquer outro elemento de um roteiro)
Imaginação - Se você for escrever fantasia ou sci-fi, melhor escrever algo que nós não vimos antes. Por exemplo, se você vai colocar seus personagens em outra roupa mecânica, por que devemos confiar que você vai nos dar uma história imaginativa? Esses gêneros exigem originalidade. Se você não tem nada além do que já viu nos filmes, talvez não seja o caso de jogar esse jogo.
Voz - Se você vê o mundo de uma maneira diferente, é uma das maneiras mais fáceis de se destacar. Tudo gira em torno de sua maneira única de escrever e de observar o mundo. Ter uma voz original é anti-mediocridade, e se alguém pode se identificar com você pelo seu roteiro, significa que você tem uma visão única do mundo.
Escrita da Cena - Leia a cena no Jack Rabbit Slims em "Pulp Fiction" ou a cena do leite em "Bastardos Inglórios". Ou veja a cena onde o detetive interroga Norman Bates em "Psicose". O suspense nessas cenas é inacreditável.
Um grande vilão - Tipicamente alguém que é complicado e que não é mau só para ser mau. Como o Governador em "The Walking Dead". O modo como ele se apaixona por uma mulher e se importa com ela e sua filha, para depois armar um plano para matar mulheres e crianças algumas cenas depois...
Geralmente, para evitar a mediocridade, você tem que ser seu maior crítico. Você tem que saber quando está sendo complacente. Olhe para cada elemento do seu roteiro e pergunte: "isso é único?" Em alguns casos, não vai ser. Ok. Desde que você tenha alguns elementos excepcionais para equilibrar com esses. "As Bem Armadas" tinha uma trama mais ou menos. Mas ao colocarem duas mulheres no lugar de dois homens, deram um respiro para a ideia.
Escrever um bom roteiro significa trabalho duro, e isso quer dizer não ficar satisfeito apenas com elementos medíocres.
Aqui está o link para o post em inglês: http://scriptshadow.net/screenwriting-article-the-exceptional-element/
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