Beto
Ribeiro é roteirista e produtor executivo de diversas séries
atualmente no ar e que são sucesso de audiência em seus canais,
desde programas de realidade como “Operação Policial” (NatGeo)
e "Divisão de Homicídios" (Discovery ID) até séries
documentais como “Especiais Médicos” (Discovery H&H) e
“Investigação Criminal” (A&E), além do “Brazil CookBook”
– primeira produção original da BBC no Brasil.
No mundo da ficção, Beto escreveu “Muito Além do Medo” e “Força de Elite” para o Canal MGM; “Os Amargos” (TBS/Turner); “Os C&D” e “Eu Odeio Meu Chefe!” (PlayTV). Beto é membro oficial do Emmy e também é escritor, somando mais de 150 mil cópias vendidas de “Poder SA – Histórias Possíveis do Mundo Corporativo” e “Eu Odeio Meu Chefe!”. Para saber mais sobre as séries e sobre ele acesse o site da Medialand: http://www.medialand.com.br/
1-Qual
seu Filme / Série / Livro favorito? (sim, é uma pergunta injusta e
cruel, mas serve como indicação para outras
pessoas )
Beto:
Sou libriano, então, é difícil eleger um só preferido. ;)
Filme:
Hoje estou com “Garota Interrompida” na cabeça. Revi
recentemente na Netflix e é incrível como uma boa história é para
sempre. Do último Oscar, para mim, o melhor filme foi “Gravidade”.
Série:
“Damages” elejo como a série mais perfeita já feita na TV. Não
existe um furo de roteiro, nem qualquer preguiça de direção.
Também coloco na lista “House Of Cards”, “Orange is the new
black”, “Breaking Bad”, “Mad Men” e “Once Upon a Time”,
cinco produções que souberam reinventar o jeito de contar uma
história na TV.
Livro:
Clássicos como “O Conde de Monte Cristo”, “Dom Casmurro,
“Primo Basílio” e “Madame Bovary” estão sempre nos top 10
de qualquer roteirista. “Sonho Grande”, da Cristiane Correa, é
fantástico e conta de verdade a vida dos meus ex-chefes da
Americanas.com, o trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sucupira e Marcel
Telles. Nos meus mais amados estão ainda toda a saga da Philippa
Gregory e suas rainhas britânicas. Meu primeiro livro “Poder S.A.”
também está entre os meus preferidos – e não é merchandising
não. Vez ou outra me pego folheando um exemplar e rindo das
histórias, como um leitor e não como o escritor.
2-Se
pudesse citar apenas um livro ou manual de roteiro / dramaturgia,
qual seria?
Beto:
“Write
Good or Die”, do Scott Nicholson. O
livro tem um jeito divertido e sarcástico para dizer que mais que
inspiração existe sim é trabalho na hora de escrever.
3-Escolha
apenas um: Personagem, Trama
ou Tema? (sim, outra pergunta injusta e cruel, mas é legal para
saber qual o foco de cada roteirista)
Beto:
Personagem.
De um bom personagem nasce qualquer boa história. E o meu personagem
referência é o da Patty Hewes, da Glenn Close, de “Damages”.
Com ela, o roteirista pode tudo.
4-Agora,
um filme nacional (pode ser série) com roteiro para ser lido, relido
e estudado
Beto:
“Redentor”,
do Cláudio Torres. O roteiro da Fernanda Torres, Claudio Torres e
Elena Soárez é simplesmente fantástico. E a produção e elenco,
também.
5-E
finalmente, um filme estrangeiro (pode ser série) com roteiro para
ser lido, relido e estudado
Beto:
O roteiro de “O Silêncio dos Inocentes” soube criar tudo
necessário para fazer uma pessoa não desgrudar da tela por mais de
duas horas.
6-Ao
escrever uma cena, o que é mais frequente aparecer para você: uma
imagem, um diálogo ou uma ação? Existe alguma hierarquia na sua
opinião?
Beto:
O que nasce, para mim, primeiro, é a história em si. Depois vou
escrevendo as sequências em imagem+ação+diálogo. Mas acontece
também de eu ouvir um diálogo na rua e querer usá-lo em alguma
série, daí crio toda uma ação para isso.
7-Qual
o maior número de vezes que você reescreveu um roteiro? Qual
era o maior problema desse roteiro?
Beto:
Nunca tive que reescrever um roteiro – verdade. O que acontece,
algumas vezes, é empacar em algum episódio. Geralmente naquele que
é a metade da história – numa série de 13 episódios acaba sendo
o sétimo.
8-Quando
você enfrenta um bloqueio na escrita, o que faz?
Beto:
Tomo banho, como chocolate ou vou pra academia. Empacou, esquece, não
adianta brigar ou ficar histérico na frente do computador. Paro por
uma hora e depois sento de novo para escrever e acaba dando certo.
9-Você
tem um "leitor de confiança" para as coisas que escreve?
Se tiver, quem
é e por que o escolheu?
Beto:
Todo e qualquer roteiro entrego para Carla Albuquerque, a diretora
geral da Medialand. Não entrego para ela somente porque ela é a
“chefe”, mas, sim, porque ela sabe muito de como contar uma
história. Confio no olhar dela e sempre aceito suas sugestões. Ela
é meu ‘grilo falante’.
10-Costuma
fazer pesquisa? No que consiste a sua pesquisa?
Beto:
Pesquiso muito sobre a realidade do assunto que vou escrever.
Como o personagem realmente fala, quais os conflitos reais daquele
universo, quais as tramas verdadeiras. Não suporto ver história
contada por um roteirista que “acha” que aquele universo é de um
jeito X. O mundo corporativo, por exemplo, minha experiência nele –
foi onde vivi por quinze anos – permite que eu escreva com alto
conhecimento de como são as reais tramas entre chefes e
subordinados. Muitas vezes, assisto a episódios de séries em que
claramente o roteirista não faz ideia do que acontece dentro dos
prédios de escritórios e tudo soa falso, sem graça. Mudo de canal.
Para
mim, uma boa história é aquela que é o mais próximo da realidade,
que permita as pessoas se identificarem. Mesmo numa série de contos
de fadas, como “Once Upon a Time”, acredito que tenha que ser
real. Se aquilo existisse, seria daquele jeito. Sempre gostei mais de
“Harry Potter” do que de “Alice no Pais das Maravilhas”.
11-Quanto
tempo demora geralmente para escrever um roteiro (no caso, você
poderia
falar tanto de um episódio quanto de uma temporada completa)? Se
cada caso for um caso, dê um ou dois exemplos.
Beto:
Tenho uma qualidade que, no Brasil, às vezes parece defeito: escrevo
rápido. Um roteiro de comédia, como “Os C&D”, de trinta
páginas, escrevo em 3 horas. “Força de Elite”, meu roteiro
policial para a MGM, é mais desgastante por causa do assunto, então,
demoro 6 horas para 50 páginas. Ou seja, em quinze dias tenho uma
série de 13 episódios completa. Mas isso só é visto como ponto
positivo para as TVs cujos executivos estão nos Estados Unidos,
afinal, lá, tempo é dinheiro. Nunca entendi o porquê de roteirista
de produção independente no Brasil pedir 3 meses para escrever 10
episódios. Até porque, o difícil é ter uma história para contar
e não escrevê-la.
12-Qual
o maior defeito e a maior qualidade de um roteirista?
Beto:
O maior defeito de um roteirista é achar que ele apenas é um
roteirista e que não deve se envolver com o orçamento da produção.
Parece que vai sujar a mão. Bobagem. Nos Estados Unidos, todo
roteirista é produtor executivo da série, ele também responde
pelos gastos. Afinal, na hora de escrever uma cena deve-se levar em
conta quanto de fato a produção tem para gastar e em quantas
diárias aquilo vai impactar. Já a qualidade de um roteirista é o
seu próprio trabalho: contar uma história – uma história que
permita o público se divertir por temporadas e temporadas.
13-Qual
é a melhor "escola" para um roteirista? Qual foi a sua
"escola"?
Beto:
Sou jornalista de formação, mas roteirista autodidata. Se eu
morasse nos Estados Unidos, teria feito milhares de bons cursos, mas,
no Brasil, isso não existe. Aqui, quem dá aula de roteiro
praticamente nunca teve um roteiro produzido ou tem baixa experiência
real de trabalho, ou seja, não tem muito a ensinar. Por isso, quando
alguém jovem me pergunta “como se tornar um roteirista”,
respondo com base na minha experiência, na minha ‘escola’. Leio
um livro por semana, tenho uma biblioteca gigante em casa e a máxima
é verdadeira: “só escreve quem lê”. Também assisto
incansavelmente toda e qualquer série de TV, de ficção a
documental, de realidade. Vejo todos os filmes, dos ‘cool’ aos
"B", leio todos os roteiros de filmes e séries que consigo
encontrar. Isso até hoje. É um prazer com trabalho. Estou sempre
ligado em como a pessoa escreveu aquela história, o que trouxe de
diferente e onde o roteirista se inspirou – hoje, consigo ver quem
‘homenageia’ quem. ;) Também procuro os buracos de roteiros e
ver como o diretor resolveu esse problema na gravação e na edição.
Vendo os acertos e erros dos outros vou aprendendo.
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