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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Duas Dicas Essenciais de David Mamet


Cinephilia and Beyond fez um post especial por causa do lançamento em DVD de Glengarry Glen Ross, com comentários dos vários envolvidos tirados do DVD, inclusive Mamet. Colocou outras coisas no post, sendo que algumas delas são conselhos bastante úteis e concisos, típicos da visão "pé-no-chão" de Mamet em relação ao processo de escrita.

SOBRE EXPOSIÇÃO / APRESENTAÇÃO

"O truque é - nunca apresente. É só isso. Nunca escreva apresentações. O público precisa entender a história e se o herói entende o que ele ou ela é, depois disso o público vai seguí-lo(a). A piada sobre apresentação costumava estar no rádio, onde eles diziam, 'Venha e sente-se naquela cadeira azul.' Isso, para mim, é o paradigma de por quê é um erro escrever apresentações.

Então apresentação veio para a TV, 'Eu sou bom, Jim, eu sou bom. Não é surpresa eles me chamarem de o melhor cirurgião ortopédico da cidade.' Certo? E agora apresentação migrou e sofreu uma metástase na porra da direção teatral. 'Ele entra no quarto e você pode ver que ele é o tipo de cara que lutou na guerra do Vietnã.' Então o erro de escrever apresentação existe ignorante até mesmo da menor compreensão do processo dramático. Você tem que tirar fora. O público não dá a mínima. Como sabemos que eles não ligam? Alguém já entrou na sala e viu um drama televisivo da metade para frente? Você teve alguma dificuldade em entender o que estava acontecendo? Não.

O truque é deixar a apresentação de lado e sempre deixar fora a "cena obrigatória". A cena obrigatória é sempre a cena do público, então quando você o filme, não só é a pior cena - é também a que tem a pior atuação. Por que a estrela tem que fazer o seu pior, uma exposição, para fazer o serviço. Deixe isso fora; queremos saber o que acontece depois. Todos nossos amiguinhos... vão dizer para você, 'Sabe, nós queremos saber mais sobre ela.' E é quando você diz, 'Bem, é para isso que você me pagou - para que você queira saber mais sobre ela."

SOBRE O QUE LER E ESTRUTURA NARRATIVA

"Eu sugiro que todo mundo pegue a edição da Poética de Aristóteles de Francis Ferguson. Leia uma vez - vai bastar - e então vá para seu teclado. Roteiro é trabalhar e trabalhar até conseguir alguma coisa. Não há mágica nenhuma. Não há mesmo.Eles dizem que Bach podia improvisar uma toccata e eu tenho certeza que ele podia, mas não acho que ninguém possa improvisar um roteiro. O Herói de Mil Faces de Joseph Campbell é um outro grande livro onde ele aborda a Jornada do Herói e explica que toda jornada do herói se parece, seja Jesus ou Moisés ou Gandhi ou Martin Luther King Jr. ou Dumbo. Toda Jornada do Herói é igual por que é como entendemos a nossa Jornada do Herói - que é a história da nossa própria vida. Nós nos deparamos com um problema, não damos bola, ele volta e finalmente vamos para a aventura. Estamos despreparados e nos achamos na barriga de uma fera como Jonas, que nos leva para uma terra estrangeira no segundo ato e amiguinhos vêm e nos ajudam. É verdadeiro. Pode ser Mickey Mouse ou João Batista ou Josué - é a mesma coisa de acordo com Joseph Campbell. Os amiguinhos vêm e eventualmente os problemas do segundo ato são resolvidos para que o terceiro ato seja a reiteração do primeiro problema em uma forma nova. Não como viver com o fato que os egípcios estão matando os judeus, mas 'como eu levo o Torá para o povo Judeu?' Então o terceiro ato se torna a busca pelo objetivo final e eventualmente o herói consegue seu objetivo e esse é o fim do filme que começou no primeiro fotograma."



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