Como a linguagem cria a mente?
A Linguagem é uma das habilidades cognitivas mais sofisticadas que possuímos. Expressa e formata o pensamento. Contém uma classificação implícita da experiência e muda os caminhos neurais do cérebro, mudando, assim, a mente.
Os padrões dinâmicos ocorrem através de sons e símbolos. É um processo similar ao de usar metáforas. Uma metáfora acha conexões entre coisas na mente e novas conexões habilitam a mente a ver o mundo de outra forma.
Em "Metaphors We Live By", George Lakoff e Mark Johson dizem que metáforas estão disseminadas em nosso dia a dia e influenciam não só a linguagem, mas também nossos pensamentos e ações.
Mas:
Já que a comunicação é baseada no mesmo sistema conceitual que usamos para pensar e agir, a linguagem é uma importante fonte de evidências para estudar esse sistema.
Primeiramente, baseado na evidência linguística, chegamos à conclusão que a maioria do nosso sistema conceitual é metafórico por natureza. E achamos uma maneira de começar a identificar em detalhes as metáforas que estruturam como percebemos, como pensamos e o que fazemos.
Pegue por exemplo o conceito de argumentação e uma metáfora conceitual correspondente para isso, que pode ser "guerra". "Essa metáfora é refletida em nossa linguagem do dia a dia em uma variedade de expressões:"
- Seus argumentos são indefensáveis
- Ele atacou todos os pontos fracos do meu argumento
- Sua crítica foi direto no alvo
- Eu demoli seu argumento
- Eu nunca venci um debate com ele
- Se você usar essa estratégia, ele irá te aniquilar
- Ele abateu todos meus argumentos
Tente imaginar uma cultura onde argumentos não são vistos em termos de guerra, onde ninguém ganha ou perde, onde não há sentimento de ataque e perda, ganhar ou perder território.
Imagine onde o argumento é visto como uma dança, onde os participantes são vistos como dançarinos, e o objetivo é atuar de uma forma balanceada e esteticamente prazerosa. Em uma cultura como essa, pessoas veriam os argumentos de uma maneira diferente, encarariam-no de uma forma diferente e falariam de uma forma diferente.
Não pensaríamos em "argumentar" no sentido que tipicamente damos a isso. Ao invés, teríamos a habilidade - e a liberdade - de estruturar nosso pensamento em volta de um discurso de forma diversa. Isso traria resultados diferentes. Quando estamos ocupados discutindo, não vemos todas as opções que temos como parte de uma troca - por que estamos à caminho da guerra, trazendo essa metáfora para a vida.
Agora falemos de uma outra metáfora bem comum - a do tempo. Nessa análise linguística, podemos ver como "tempo é dinheiro" permeia nossas realidades:
- Você está desperdiçando meu tempo
- Esse objeto irá te economizar horas
- Não tenho esse tempo para te dar
- Como você gasta seu tempo?
- Eu não tenho tempo a perder
- Esse pneu careca me custou uma hora
- Eu investi muito tempo nela
- Seu tempo está acabando
- Isso vale seu tempo?
- Quanto tempo lhe resta?
- Você não usa seu tempo de forma econômica
- Perdi bastante tempo quando fiquei doente
- Obrigado pelo seu tempo
Agimos como se o tempo fosse uma "commodity" - um bem limitado, como o dinheiro - concebemos o tempo dessa maneira.
É um conceito relativamente novo de nossa cultura. "Há culturas onde o tempo não é nem uma dessas coisas," diz o autor de "Metaphors We Live By". Globalização e acessibilidade estão espalhando ideias, imagens, e coisas mais rápido e em maior quantidade, mas nossa identidade ainda está ligada a muitos elementos que são culturais - através de herança, ambiente, necessidades e interações no mundo onde nós crescemos e vivemos.
Quando pensamos em tudo isso, a comunicação parece quase um milagre. Devemos nos maravilhar que aconteça. Dois ou mais seres engajados em mudar o cérebro uns dos outros. Às vezes, entramos em uma conversa abertos para mudar nossas mentes também.
Muitos estudos neurolinguísticos têm sido conduzidos sobre o assunto de como a mente cria a linguagem. Ainda assim poucos seguem o caminho contrário - como a linguagem muda a mente. Por linguagem eu entendo o uso deliberado e preciso de terminologia e fraseologia para comunicar intenções, dividir visões, engajar em pensamentos, atingir alguém para conectar ou inspirar.
Escritores sempre dizem que não sabem o que estão pensando até colocar a caneta no papel. Colocar a caneta no papel é uma experiência sensorial muito diferente que teclar em um computador. A escrita de cartas combina nosso desejo de expressar o que pensamos e sentimos com a arte da caligrafia e mais dos nossos sentidos - toque, habilidade manual e linguagem - em um sistema que providencia estimulação de volta para nós em forma de um feedback sensorial.
A escrita de cartas é uma arte perdida. Escrever uma carta é dar um presente. Implica a reciprocidade que cria um relacionamento de "duas mãos" (nota do blog: desculpe o trocadilho) com nossa experiência e da pessoa para quem escrevemos. Remetente e destinatário conectam-se em um ato tangível através do poder da palavra escrita à mão e em seu continente - a carta, o cartão.
Mas vivemos em uma cultura onde tempo é dinheiro, onde fazemos uso eficiente dos recursos automatizando mensagens, mandando e-mails rápidos, mensagens de texto, notas de chat, rápidas hashtags e "twits". Por essa razão, sem tempo para conversa nós chafurdamos em monólogos narcisistas ao invés de danças, ou trocas, quase não vendo a pessoa que existe atrás de seu avatar.
Nesse contexto "tempo é dinheiro" há pouco espaço para escrever cartas. Acabamos com isso em nome da eficiência.
O e-mail está nos ajudando a ficar em contato rapidamente com os outros. Memorandos e e-mails dão às companhias a habilidade de se comunicar com centenas de empregados simultaneamente.
Mas há algo a ser dito de uma nota à mão - é pessoal, íntimo, comunica muito mais que apenas o desejo de se estar em contato. Nos sensibiliza. E, talvez, dedicar tempo para escrever uma carta nos ajude a mudar a metáfora conceitual do tempo.
EXTRAÍDO E TRADUZIDO DO SITE CONVERSATION AGENT:
www.conversationagent.com/2015/10/language-and-the-lost-art-of-letter-writing.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário