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sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Roteirista Não Faz a Coisa Certa, Ele Descobre o Seu Estilo


Já li e ouvi várias vezes certas perguntas que parecem ter respostas simples. Mas é o contrário. São as perguntas mais simples que às vezes possuem as respostas mais complexas.

Uma delas é a velha questão: depois de um tempo escrevendo, o roteirista iniciante percebe que, em um roteiro, a quantidade de vezes que as palavras "olha", "observa", "anda" ou "diz" aparecem é muito grande.

O que o roteirista deve fazer? Apenas manter o mesmo verbo e "equilibrá-lo" com as outras palavras para que não dê muito na pinta que está sendo muito usado? Ou usar inúmeras variações dessa mesma palavra? 

"Anda" pode virar "rasteja", "corre", "locomove", "arrasta", dependendo do tipo de ação que está sendo representada no roteiro.

Alguns vão dizer que é melhor usar sempre o mesmo verbo. Fica mais fácil de ler. Outros vão dizer que é melhor escolher verbos vívidos para cada situação. Fica mais fácil de ler. Hã? Interessante...

A verdade é: não há verdade. O que há é senso comum. Padronizações. E opiniões. Que são melhores ou piores. E que dependem de muita coisa, principalmente do seu próprio estilo de escrita.

E daí que vem um dos períodos que mais gosto de um livro excepcional de um poeta brilhante, "Necessary Angel" de Wallace Stevens. O primeiro período desse livro de ensaios sobre arte e imaginação é: "Uma função do poeta de qualquer tempo é descobrir através do seu próprio pensamento e sentimento O QUE É POESIA naquele determinado momento."

Todo mundo que vai escrever poesia pensa que está entrando num terreno de áreas bem delimitadas e que, à partir do momento em que você fizer o que "os poetas fazem", você vai se tornar um poeta. Quando, na verdade, os maiores poetas frequentemente fazem exatamente o que os poetas de sua época nunca fariam.

E se você esticar isso para os roteiristas? O que acontece? É claro que há padronizações das quais não é possível escapar em certos meios, mas o trabalho do roteirista é muitas vezes "empurrar" esses limites para mais longe e é daí que nasce toda a dinâmica de por que a arte progride no nosso planeta.

Ou seja, muitas vezes, quando você pergunta, "o que devo fazer?", essa pergunta deveria ser feita não com a mente voltada para o que é "certo" e sim para o que é "adequado e necessário" para a sua escrita naquele determinado momento. Afinal de contas, todo mundo está tentando descobrir o que é certo, não só você. E SE NÃO ESTÃO, DEVERIAM. E o que você vier a descobrir pode se tornar o que, daqui há algum tempo, muitos outros roteiristas vão considerar "certo", ao invés de verem a realidade: que aquilo que você fez foi simplesmente "adequado e necessário", considerando o objetivo que você queria cumprir com o seu trabalho.

Dei toda essa volta por que no blog "Go Into The Story" do Scott Mayers, ele comentou o assunto das palavras recorrentes em um roteiro em dois posts: "90 words for looks" e "115 words for walks".

Lá ele divulga uma lista feita por um leitor do site chamado Alan Donahue, de 90 palavras que podem substituir "looks" e 115 que podem substituir "walks".

E reproduz um conselho do roteirista de "A Caçada ao Outubro Vermelho", Larry Ferguson, que sinceramente, também indico como exercício para qualquer roteirista, iniciante ou experiente:

"Era uma garota que veio para mim com seu primeiro roteiro. Um bom primeiro roteiro. E eu lhe dei um conselho. Eu disse, 'Quero que vá para casa e pegue uma caneta marcadora; destaque cada verbo nesse roteiro de 120 páginas, então leia-os em voz alta e pergunte a si mesma, 'Posso achar um verbo melhor?' Personagens não devem entrar. Eles devem meter a cara, eles devem se infiltrar, eles devem se esgueirar. Fazer desse jeito é a única chance de criar imagens no cérebro das pessoas."

Já tentou fazer isso?

Aqui estão os links para os dois posts e as duas listas:







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