Bastardos Inglórios – Masterclass de Suspense

Roteiro de Quentin Tarantino

*Contém SPOILERS de Bastardos Inglórios (2010)

Dentre os vários talentos que Tarantino demonstra ter em Bastardos Inglórios(2010), há um que eu vou analisar nesse post: sua capacidade de criar cenas de suspense baseadas em um único espaço, sustentadas por diálogo e pouca movimentação cênica. Talvez o único de seus outros filmes em que ele demonstre tanta capacidade para isso seja o Pulp Fiction. Em Bastardos há três sequências principais desse tipo e pelo menos duas delas são aulas de construção de suspense. A primeira é o começo do filme, onde o coronel Hans Landa chega na choupana de uma família francesa e promove uma chacina de judeus, deixando escapar apenas um deles, Shosanna. A segunda é quando Landa e Shosanna se reencontram em um restaurante, mas Landa não sabe que Shosanna é a jovem que ele deixou escapar no começo do filme. E a terceira é o momento em que o tenente inglês Hicox e dois dos “bastardos” vão se encontrar com Bridget von Hammersmark na taverna mais perigosa do território francês ocupado pelos nazistas. A primeira sequência têm cerca de dezessete minutos, a segunda têm doze e a terceira vinte e cinco. É a mais longa e complexa, além de ter um desenvolvimento que impressiona pela brutalidade com que os conflitos são resolvidos. Desse ponto de vista, quebra com algumas expectativas criadas antes no filme, sendo ao mesmo tempo estimulante e decepcionante (estimulante pela imaginação do autor envolvida em empreendê-la, decepcionante se você se apegou demais a algum dos personagens). Ou seja, uma sequência impressionante.

Esse momento ocupa a maior parte do quarto capítulo do filme, entitulado "Operation Kino". Ao começar a sequência da Taverna, já sabemos que o tenente inglês Hicox e os dois “bastardos” Wicki e Stiglitz tem como objetivo encontrar a atriz Bridget von Hammersmark. Ela passará informações “quentes” sobre os planos da cúpula nazista em promover a pré-estréia do filme “Nation´s Pride”, filme que é o orgulho de Goebbels. Com as informações de Hammersmark eles vão poder dar prosseguimento ao plano de acabar com todos eles durante a exibição da pélícula. A idéia é encontrar a informante, pegar as informações e todos saírem de lá vivos. Mas o que acontece? Vou fazer um resumo onde descrevo os momentos cruciais da sequência:

1-O final da sequência anterior acaba com Hicox falando que Hammersmark arranjou aquele local por quê não há alemães nele. No começo da sequência seguinte, o que é mostrado? Hammersmark, só que circundada por vários alemães, num jogo de adivinhação baseado em cartas.

A primeira coisa que tenho que dizer é que uma sequência é uma sequência, ou seja, não importa que tenha vinte e cinco, quarenta ou treze minutos, essa sequência se baseia em uma única coisa: Hicox e os “bastardos” querem as informações de Hammersmark. Vão ocorrer obstáculos para que essas informações sejam passadas e no final, ou eles conseguem esse objetivo ou não.

Outra coisa que tenho a dizer é que os filmes de Tarantino são elogiados pelos seus diálogos e essa sequência aparentemente se baseia em muitos diálogos, mas não são os diálogos que seguram a estrutura da sequência e sim a trama que se esconde debaixo deles. Eu dividi a sequência de vinte e cinco minutos em doze itens, mas poderia ter dividido em mais, baseado em momentos em que novas informações importantes para a progressão da trama e do suspense são inseridas. Ou seja, há uma teia (ou tapeçaria) de informações sendo tecida diante de nossos olhos enquanto os diálogos são apenas a parte mais aparente dela.

2-O inglês e os dois “bastardos” entram no local, assustados com a atenção que chamaram e com o fato do lugar estar apinhado de nazistas. Hammersmark saúda os seus “amigos” e toma a frente da conversa. Quem responde é Wicki, que sabe falar um alemão perfeito. O grupo senta-se enquanto Hammersmark se despede dos alemães e senta-se na mesa dos “bastardos”.

Wicki responde a Hammersmark por que ele e Stiglitz são os alemães do grupo. Essa informação vai ser importante para saber mais sobre as ações de Hicox futuramente.

3-Hammersmark avisa que o sargento alemão Wilhelm teve um filho e por isso os alemães estão lá (ou seja, ela NÃO traiu os “bastardos”); para substituir Hammersmark, Mathilda, a garçonete, toma o seu lugar e é feito um brinde para o filho do sargento Wilhelm, que descobrimos se chamar Maximilian (Max).

A informação de que Wilhelm teve um filho é crucial para que o público não fique pensando que Hammersmark traiu o grupo, já que em número 1, a quebra irônica do que Hicox disse (de que o lugar foi escolhido por não ter alemães) foi tão abrupto que claramente indica que alguma coisa deu errado. Se isso não tivesse sido esclarecido logo no começo, o público ficaria pensando sobre as reais intenções de Hammersmark a sequência inteira.

Já o brinde para “Max” vai criando uma teia de informações em relação a Wilhelm que vai ser importante para que possamos criar um pouco de empatia com ele, já que isso será importante para o desenvolvimento da sequência.

4-A primeira informação de Hammersmark: não vai ser no Ritz e sim num cinema muito menor que “Nation´s Pride” terá a sua premiere, ou seja, os explosivos serão duplamente efetivos (vai ser muito mais FÁCIL executar o plano). Quando a segunda informação vai ser passada (e ela deixa claro que essa vai fazer eles caírem para trás), o sargento Wilhelm se mete na conversa pedindo um autógrafo de Hammersmark, quebrando a conversa e irritando Hicox. Principalmente quando Wilhelm derruba parte de sua cerveja no uniforme dele (isso é importante para a reação que Hicox vai ter logo depois).

A cena se encaminha para um desfecho positivo. Primeiro: o plano vai ficar mais fácil. E segundo, uma outra informação melhor que a primeira, vai ser dada. Mas... shit happens. Ou seja, uma sequência desse tamanho de suspense não se movimenta apenas através de progressões diretas em relação ao objetivo. Primeiro parece que tudo vai dar certo, depois acontece alguma coisa que dificulta a situação, em seguida parece que esse obstáculo vai ser resolvido, mas no momento seguinte vemos que ele não foi e etc. e tal.

5-O sargento Wilhelm, mesmo depois de conseguir seu autógrafo, por estar bêbado, decide continuar a conversa, sentando-se à mesa, o que enfurece Hicox. Hicox dá uma bronca no sargento, baseado na quebra de hierarquia que Wilhelm está promovendo sentando-se numa mesa de oficiais sem ser convidado. No entanto, a bronca não surte o efeito esperado. O que mais intriga o sargento é o fato do sotaque de Hicox ser estranho, despertando-lhe suspeitas. Stiglitz, que fala um alemão convincente, toma a dianteira e retoma a bronca de Hicox, inclusive intimando os outros alemães a tirarem imediatamente o sargento daquela mesa. Como “quem tem cú, tem medo”, o sargento vai ser carregado para fora da mesa, quando subitamente percebemos que há um personagem na taverna que ainda não tinha aparecido: o major alemão Hellstrom.

O que é claro nessa parte é que Hicox cometeu um erro. No item 2 vemos claramente que Wicki respondeu para Hammersmark, mesmo sendo ele um oficial de patente menor que o de Hicox (no disfarce que eles estão usando). Por quê? Por quê Hicox não é alemão e mesmo falando bem a língua, havia riscos dele ser descoberto. Então por quê ele gritou com o sargento Wilhelm? Por quê estava bravo e nervoso com a situação, ainda mais depois que cerveja caiu no seu uniforme. Seria perfeitamente possível ele acenar para Stiglitz, que então o mesmo daria a bronca no lugar dele, como foi o que aconteceu depois, quando o sotaque foi notado. Mas ele tomou a iniciativa de forma errada, se deixou levar pela irritação e pelo nervosismo da situação. Estou frisando isso, por quê Tarantino vai fazer um julgamento moral sobre esse personagem no final dessa sequência. Baseado no que acontece na narrativa.

Com isso, a tensão aumenta mais um pouco. Mas continuemos...

6-Entra na conversa o Major Hellstrom, que estava em um local adjacente lendo um livro e que ainda não havia sido mostrado pela câmera. Como sua patente é maior do que a dos outros envolvidos na cena, Hicox e os outros tem que encarar a difícil tarefa de conseguir acabar com a conversa sem quebrar a hierarquia. Uma primeira mentira: Hicox, para provar que é alemão, diz que apareceu em um filme de Riefenstahl.

Com a chegada de Hellstrom há um novo aumento de tensão na cena. Ele já havia aparecido antes no filme como um homem extremamente antipático e talvez perigoso, mas o nível de terror que ele consegue evocar só vai aumentar.

7-O Major continua a implicar tentando saber o que eles estão fazendo naquela região e Hicox diz que será o escort de Hammersmark na premiere de “Nation´s Pride”. Parece ser um motivo que Hellstrom não pode contestar.

8-Enquanto isso, na mesa dos “não-oficiais”, o jogo continua. E pelo jeito alguém confundiu a Rainha Cristina com Mata Hari.

Com a informação dada em 7, Hellstrom poderia já ter ido embora. A tensão chegou ao seu máximo momentâneo e agora afrouxou. Mas nesse momento há uma “inserção útil” na sequência: o jogo que está sendo jogado na mesa dos “não-oficiais”. Não é apenas para pontuar a sequência, mas também para criar um elemento de coesão em relação a idéia que Hellstrom vai ter no momento seguinte.

9-Hellstrom parece acreditar no que foi falado, mas não descola do grupo. Decide jogar o jogo de cartas dos “não-oficiais” com os “oficiais”. Enquanto isso, tanto Hicox quanto Stiglitz começam a ficar extremamente incomodados, já que no caso de Stiglitz, Hellstrom lhe dá tapas “amigáveis” constantemente, numa mistura de implicância com certa amistosidade irritante. Stiglitz lembra de um momento de sua vida em que levou chicotadas (ou será apenas sua imaginação?) Hellstrom começa o jogo e descobre-se o nome que está escrito na carta colada em sua testa: King Kong.

A tensão volta a aumentar com a insistência de Hellstrom em não ir embora, já que não sabemos exatamente o que Hellstrom pensa, ele pode ainda estar desconfiado e está usando o jogo como uma desculpa. Ou seja, enquanto ele não for embora a tensão de poderem ser descobertos não vai diminuir.

10-Quando é a vez dos outros jogarem, Hicox se adianta e diz que Hellstrom está sendo intrusivo. Eles querem ficar sozinhos. O major, apesar de contrariado e de forma implicante, admite isso e decide ir embora, deixando o grupo sozinho. Mas antes, oferece um brinde. Hicox levanta os três dedos do meio para pedir “três copos” de uma bebida e isso parece dizer alguma coisa nova para Hellstrom.

A cena alcança mais um pico de tensão, já que Hicox ainda não havia aberto o jogo sobre a implicância do major. É como se o jogo do oficial alemão tivesse sido descoberto. No entanto, logo depois desse pico de tensão, temos um relaxamento de tensão equivalente, já que o major, depois dessa e de implicar um pouco mais com eles, decide ir embora. É um “alívio”, mas um falso “alívio”, já que é nesse momento que Hicox vai fazer o gesto que vai denunciá-lo para Hellstrom e colocar todos de boca para o clímax máximo da sequência. Ou seja, a progressão dramática se constrói através de momentos de tensão se sucedendo a momentos de relaxamento. E esses momentos são criados através das informações passadas, que irão criar reações nos personagens.

11-Eles foram descobertos. Hellstrom sabe que Hicox não é alemão e aponta um revólver para o mesmo por debaixo da mesa. Hicox revela que já está fazendo o mesmo para Hellstrom desde que ele se sentou. Depois de um preâmbulo tenso, o tiroteio começa, onde todos no bar entram na dança. Dessa confusão, aparentemente apenas o sargento Wilhelm sobra vivo.

Aqui vem o clímax, primeiro verbal e depois o de ação. Hicox e Hellstrom apontam seus revólveres um para o outro e começa um tiroteio que vai envolver todos que estão na taverna, restando apenas um personagem, aquele que teve a maior apresentação durante a construção da sequência: Wilhelm. Agora, tudo o que foi dito sobre ele e sobre seu filho parece ter uma razão de ser. Desde o começo nos foram dadas informações para que nessa hora, esse sargento alemão não seja apenas um sargento alemão negociando com o tenente Aldo e sim, um soldado que tem filho e que precisa voltar vivo para casa.

12-O tenente Aldo e o sargento Donny, que estavam esperando do lado de fora, foram atraídos pela confusão e querem conversar com Wilhelm. Descobre-se também que Hammersmark ainda está viva. Wilhelm quer viver, afinal de contas tem um filho que acabou de nascer e quer vê-lo crescer. Aldo também não quer briga, quer apenas pegar quem sobrou vivo e ir embora. Mas, para isso, Wilhelm vai ter que jogar a sua sub-metralhadora fora. Um trato é feito. Apesar de ter dúvidas, Wilhelm joga a arma para o lado, mas nesse momento é morto por Hammersmark, que, descobre-se, tinha um revólver que não tinha sido usado. Até aquele momento. Como não há mais ninguém vivo na taverna, Aldo e Donny levam Hammersmark com eles para que a segunda informação – a mais importante – seja revelada em outro lugar.

O momento final muda radicalmente o equilíbrio de forças da cena, já que a maioria dos personagens estão mortos. Importante frisar que a segunda informação de Hammersmark ainda não foi revelada. E, não por acaso, entre tantos corpos, ela está viva. A tensão da cena da entrada de Aldo na taverna decorre principalmente do fato que o ponto de vista, por incrível que pareça, está do lado do sargento Wilhelm, já que ele é quem tem o que perder e é capaz de com isso, fazer com que criemos identificação por ele. E dá a Tarantino a possibilidade de uma virada surpresa, já que não esperamos mais que Wilhelm vá morrer. De certa forma, nós também passamos a sentir algo por ele. Mas Wilhelm morre, através de uma nova informação surpresa: Hammersmark também tinha um revólver.

Na próxima cena, a segunda informação tão esperada é revelada: Hitler pessoalmente vai atender a premiere de “Nation´s Pride”. E junto com ela, será revelada a razão de por quê Hicox foi descoberto. Os alemães fazem o sinal de “três” usando o polegar enquanto Hicox fez o sinal de “três” levantando os três dedos do meio. O importante é que essas duas revelações são feitas para impedir que Aldo continue pensando que Hammersmark é uma traidora. Ou seja, as revelações não são apenas jogadas no filme, são atreladas a um novo conflito dramático.

Voltando a Hicox, ao fazer o gesto, ele se adiantou mais uma vez, como quando gritou com Wilhelm. Na primeira vez, parece que Tarantino o perdoou, mas na segunda, seu erro foi fatal. Quero dizer com isso que a morte do tenente inglês e dos dois “bastardos” não foi aleatória. Há uma razão muito clara para isso ter acontecido no filme de Tarantino e está baseado em desenvolvimento de personagem. O tenente Hicox só aparece nesse quarto capítulo, mas parece que acabamos conhecendo ele muito bem, já que um traço de sua personalidade define toda a sequência. Eles não morrem só por quê havia um sargento alemão bêbado e um major implicante na cena. Mais do que isso, eles morrem por quê havia também um tenente inglês impulsivo e incapaz de manter a calma numa situação de extrema tensão. Senão a cena não acabaria do jeito que acabou.

RESUMO DA ÓPERA

1-Progressão do Conflito

O conflito aumenta gradativamente através da mudança do status quo da cena. Primeiro, eles querem pegar as informações e fugirem sem serem notados. Depois que o sotaque de Hicox é questionado, o conflito aumenta. A questão não é nem pegar as informações, é não serem descobertos. E depois de serem descobertos, o grande objetivo é atirar e ver se alguém vai sair vivo do lugar. O perigo aumenta, o suspense aumenta. A cada nova informação, mais um degrau na “escada da tensão” é percorrido.

2-Material Poético

A cena se baseia em alguns “temas conteudísticos” que dão unidade para a mesma. O mais explícito é o jogo de cartas onde se tem que adivinhar que nome está escrito na carta que está em sua posse. Outro é o cinema, já que o alíbi de Hicox se baseia em Riefenstahl e Pabst. Isso dá uma unidade muito forte aos diálogos da cena, impedindo que pareça que eles estão apenas jogando conversa fora ou que suas ações pareçam fragmentadas demais numa cena tão grande.

3-Ponto de Vista

Para se criar uma cena de suspense, é preciso ter idéia de como se distribui o ponto de vista e a identificação que o público tem com os personagens. Apesar de ser uma cena complexa, grande parte da cena exige que nos identifiquemos com o tenente Hicox. No entanto, no final, esse ponto de vista vai para o sargento alemão Wilhelm. Uma virada imprevisível e ousada. Uma coisa que é importante dizer é que não é preciso gostar de um personagem para ver as coisas do seu ponto de vista. É uma mistura de elementos persuasivos do personagem com técnica.

4-Distribuição das Informações

Para uma cena dessas dar certo é preciso distribuir as informações de maneira precisa para que as coisas certas aconteçam na hora certa. Não vou listar todas as informações por quê já fiz a análise da sequência, mas elas se distribuem da seguinte maneira em relação a sua natureza:

A-Novas informações decorrentes de entrada de personagem

-Quando a cena começa e os alemães em si já representam uma ameaça que não era esperada

-Quando o Major Hellstrom entra em cena

B-Novas informações decorrentes da ação do personagem

-O comportamento do sargento Wilhelm, que normalmente não “invadiria” a mesa dos oficiais

-A implicância de Hellstrom que faz parte não só do seu trabalho, mas de sua personalidade também

-Wilhelm joga sua arma fora no final por causa de sua vontade de voltar para a família

C-Novas informações decorrentes de revelação de personagem

-Hicox dá uma bronca em Wilhelm e este nota seu sotaque estranho, dando início às suspeitas que vão denunciar a todos

-Hicox faz o gesto de “três copos” errado e Hellstrom descobre que ele não é alemão

-No final, Hammersmark passa de “mulher sem arma” para “mulher armada”, o que também pode ser considerado como uma revelação de personagem

5-O Final

Numa sequência de suspense, o final é essencial, já que nesse tipo de roteiro há um cuidado especial com a estrutura narrativa. Nesse caso, é particularmente perspicaz, já que a sequência não acaba com a pergunta: “Será que eles vão conseguir a informação final de Hammersmark?” Essa informação é deixada para ser resolvida na cena seguinte. No final da cena na taverna, o que está em jogo é se eles vão conseguir tirar Hammersmark de lá e qual vai ser o destino do sargento alemão Wilhelm. Ou seja, uma motivação emocional mais forte para o final da cena, já que há duas vidas em jogo de lados opostos da batalha e as duas despertam identificação do espectador. Hammersmark por estar do lado dos “mocinhos” e Wilhelm por você saber do seu conflito (acabou de virar papai). E por isso, o desfecho onde Wilhelm morre é mais forte, já que esperava-se que tudo acabasse zero a zero no final. Há uma certa ambiguidade nos “mocinhos” da história (ambiguidade que se repete em muitas sequências do filme), onde eles se mostram tão brutais quanto os vilões, mas, fazer o quê, eles estão do “lado certo”. O que conta deixar claro aqui é que o final da cena não poderia acontecer sem a sub-trama de Wilhelm que se desenrolou durante a cena inteira. Ou seja, o objetivo inicial foi modificado pelo elemento principal da sub-trama dentro da sequência, resultando num conflito final imprevisível. Não adianta apenas conseguir ou não conseguir o que se fixou no começo como meta, o que aparecer durante a cena como sub-trama vai se juntar a trama principal e resultar em algo novo para o final.