Roteiro: Darin Morgan
Criador da Série: Chris Carter
Direção: Rob Bowman
S03E20
*Contém SPOILERS de Arquivo X: Jose Chung´s From Outer Space (1996)
**Não vou contar o resumo do episódio basicamente porque imagino que quem vai ler já viu o mesmo (ou deve ver imediatamente)
Em Cidadão Kane de Welles, a vida de uma pessoa é contada linearmente, mas de vários pontos de vista. Em Rashomon, do Kurosawa, uma mesma situação (um estupro) é vista também de diversos pontos de vista. Os personagens, como em Kane, mantém uma certa coerência, pelo menos de tom.
Já aqui, o que temos é a investigação de um mistério através de entrevistas concedidas ao escritor fictício Jose Chung. O modo de contar a história confrontando pontos de vista se repete, mas o interessante é que, ao contrário dos filmes citados, as "variáveis" menos constantes nesse episódio do Arquivo X são os personagens.
Fox Mulder é visto durante o decorrer da história como agente do governo "by the book" quando promove as sessões de hipnotismo ou quando acha um dos pilotos vestidos de "alienígena" que foram abduzidos no começo do episódio. No entanto, é visto de forma bizarra e cômica quando come uma torta de batata doce inteira enquanto faz um dos interrogatórios menos frutíferos da história do Arquivo X. Ou quando acha um "alienígena" morto e dá um gritinho constrangedor. O tom com que é tratado muda totalmente, mas é verossímel, porque faz parte de relatos vindos de pessoas diferentes.
Já a agente Scully tem os seus dias de bullying quando encontra Blaine Faulkner. Num outro momento vai pegar gelo para os homens de preto estando hipnotizada. E também tem seus dias de seriedade quando faz a autópsia de um alienígena que na verdade é um piloto da força aérea americana. No entanto, essa autópsia de verdade é transformada num vídeo "investigativo" sobre UFOs onde são suprimidas todas as evidências encontradas que comprovam que o "E.T." é apenas um piloto da força aérea americana vestido de alienígena. Suas aparições mudam de tom e refletem os modos pelos quais os autores dos relatos a viram.
Enquanto a trama progride através de elementos contraditórios, mas linearmente, os personagens tem um desenvolvimento que não parece ser linear e sim em forma de poliedro. Ou seja, a cada vez que os vemos, eles tomam uma feição um pouco (ou muito) diferente, às vezes totalmente contraditória com a anterior, como se o seu desenvolvimento não estivesse em continuidade como numa linha reta e sim composto pelas faces diferentes de um poliedro, não constituindo uma progressão e sim um objeto multi-facetado onde cada parte pode ser colocada em confronto com a outra para daí se tirar a conclusão de "quem é esse personagem."
O grande objetivo desse formato é criar surpresas e revelações usando desenvolvimentos imprevisíveis em relação aos personagens, já que eles são vistos de maneiras muito diferentes e as pessoas que dão os relatos mostram assim os preconceitos e limites de interpretação que podem ter da realidade. Você caracteriza simultaneamente quem está dando o relato e quem está sendo "objeto" do relato. E por isso as caracterizações são "instáveis", ou seja, sujeitas a certos questionamentos.
Exemplos disso são os personagens Blaine Faulkner e Roky Crikenson. O fato do primeiro relatar que tanto Mulder quanto Scully o ameaçaram quando o encontraram talvez revele um lado paranóico da sua parte, mas será então que o ataque dos homens de preto na sua casa também foi paranóia? Ou parte da história é verdadeira e parte falsa? Ele pode ser paranóico, mas às vezes até os paranóicos estão certos.
Já Roky Crikenson usou seu encontro com Lord Kinbote como propulsor de uma guinada em sua vida, já que o mesmo falou com ele... ou será que ele imaginou tudo isso no intento de dar uma guinada em sua vida? Um alienígena que não fala parecendo um dinossauro já não é ridículo o suficiente? No entanto, tanto os jovens abduzidos quanto os pilotos da força aérea também viram Lord Kinbote... ou seja, se ele existe pode ser que fale, mas mesmo assim, há margem para dúvida. Nessa brincadeira, Roky foi caracterizado como alguém que aproveita esse tipo de experiência para realmente mudar de vida.
Exemplos disso são os personagens Blaine Faulkner e Roky Crikenson. O fato do primeiro relatar que tanto Mulder quanto Scully o ameaçaram quando o encontraram talvez revele um lado paranóico da sua parte, mas será então que o ataque dos homens de preto na sua casa também foi paranóia? Ou parte da história é verdadeira e parte falsa? Ele pode ser paranóico, mas às vezes até os paranóicos estão certos.
Já Roky Crikenson usou seu encontro com Lord Kinbote como propulsor de uma guinada em sua vida, já que o mesmo falou com ele... ou será que ele imaginou tudo isso no intento de dar uma guinada em sua vida? Um alienígena que não fala parecendo um dinossauro já não é ridículo o suficiente? No entanto, tanto os jovens abduzidos quanto os pilotos da força aérea também viram Lord Kinbote... ou seja, se ele existe pode ser que fale, mas mesmo assim, há margem para dúvida. Nessa brincadeira, Roky foi caracterizado como alguém que aproveita esse tipo de experiência para realmente mudar de vida.
Ao criar instabilidades através dos relatos, a história, que pelos seus elementos, é difícil de acreditar, ganha credibilidade, porque deixa claro que os criadores trataram do tema sem necessariamente defender a tese de que tudo aquilo aconteceu da maneira como foi relatado.
Em decorrência disso, a presença de personagens cômicos cujas existências são duvidosas como Lord Kinbote e os dois homens de preto interpretados pelas personalidades americanas Jesse Ventura e Alex Trebek se tornam fáceis de digerir, embora não percam seu teor de comédia e imprevisibilidade.
O único problema de adotar um esquema desses é se perder no meio do caminho, criando uma narrativa tão confusa que faça o espectador se distanciar da história a ponto da mesma não o interessar. Mas não é o caso desse episódio de Arquivo X. Pelo contrário.
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